Se estávamos habituados a que as tendências sociais nos revelassem o que vestir, preparem-se: elas agora também marcam a forma como pagamos os nossos bens e serviços.
A crescente preferência dos consumidores por meios de pagamento contactless veio dar um forte impulso à tecnologia de pagamento móvel, e em particular, àquela que acontece via wearables.
Impulsionado, em parte, pelo impacto da pandemia COVID-19, a popularidade dos chamados pagamentos “limpos” (smartphones, smartwatches, anéis, pulseiras, botões de punho preparados para pagamentos, entre outros), está a conhecer uma forte e rápida aceleração em todo o mundo.
No caso particular e mais excêntrico dos anéis, porta-chaves e botões de punho, dispositivos que normalmente não associamos a pagamentos e que o mercado baptizou como wearables passivos, o crescimento é frenético em função da maior atenção que o mundo da moda e da joalharia lhes devota no momento.
Exemplos do que acabamos de referir não faltam e vão desde o caso de um conhecido designer francês que criou anéis capazes de transportar informações de pagamento até às novas pulseiras e botões de punho que incluem tecnologia de pagamentos e aos tecidos “inteligentes” que, com base em sensores interativos, transformam casacos e calças em potenciais meios de transporte de informação e realização de pagamentos.
Apesar de aparentemente distópico, hoje em dia, estes wearables passivos já servem de meio de pagamento em variados resorts e hotéis, parques de diversões, festivais de música e concertos, navios de cruzeiro ou eventos desportivos.
Aliás, um recente estudo do 451 Research da S&P Global Market Intelligence conduzido em 15 países revelou que os consumidores búlgaros, gregos, peruanos, polacos, sul-africanos, italianos e espanhóis nutriam uma grande confiança e interesse neste novo paradigma de pagamentos.
O apelo é claro: ao poderem vincular uma conta bancária/cartão a estes wearables, os clientes deixam não só de carregarem consigo dinheiro vivo ou cartões, como evitam a necessidade de adicionarem continuamente fundos ao dispositivo.
Ainda de acordo com o 451 Research, o método mais popular para financiar uma pulseira, por exemplo, é através de uploads automáticos de uma conta bancária, mas mesmo que não possuam esta última, os consumidores podem continuar a desfrutar do valor “armazenado” na pulseira.
Isto vem mostrar a importância destes wearables recarregáveis como opção de pagamento valiosa para populações sem acesso a bancos, parcela significativa dos consumidores em muitos países do mundo, ou turistas.
Tecnologia wearable: estarão os consumidores prontos?
Embora esteja em clara trajetória ascendente em todo o mundo, a aceitação destes novos meios de pagamento é distinta dependendo da região do globo em que nos encontramos.
De acordo com o 451 Research, por exemplo, 54% dos consumidores a nível global disseram que se sentiam “altamente confortáveis” com pagamentos contactless em geral, enquanto quase dois terços (65%) responderam esperar que, no futuro, mais comerciantes aceitem opções de pagamento sem contacto, citando a velocidade e a conveniência destes meios como os dois principais motivos para que isso deva acontecer.
Neste estudo, Polónia e Austrália destacaram-se como os países mais receptivos aos pagamentos sem contacto com, respetivamente, 78 e 64% dos seus consumidores a afirmarem preferir este método.
Em contraste, os EUA, que começaram a adoptar cartões contactless mais tarde do que muitos outros países, permanecem mais relutantes. Numa pesquisa conduzida antes da pandemia, apenas 19% dos consumidores americanos disseram “preferir” pagamentos sem contacto, em comparação com a média global de 45 %.
Porém, tudo isso mudou com o dealbar da Covid-19 em todo o mundo. Os sentimentos positivos sobre a conveniência dos pagamentos contactless está em crescendo desde então, como mostra um estudo realizado pela Discover Financial Services no final de 2020: 68% dos americanos entrevistados afirmava que iria começar a utilizar meios de pagamentos sem contacto de modo a evitarem o contacto com superfícies ao efetuarem as suas compras natalícias.
Um novo horizonte repleto de oportunidades para os Comerciantes
Os wearables não são apenas uma fonte de maior conveniência para os consumidores na altura de pagarem as suas compras, eles também oferecem aos comerciantes uma nova ferramenta de captura e retenção de clientes.
Estudos mostram, que entre os factores que os consumidores mais valorizam quando entram numa loja, está a disponibilização, ou não, dos seus métodos de pagamento preferidos. Assim, com o aumento dos pagamentos móveis através de wearables, os comerciantes devem trabalhar em estreita colaboração com um parceiro especializado em soluções de pagamento de modo a garantir que o seu negócio está pronto para satisfazer as tendências de consumo atuais e as necessidades dos “novos” consumidores.
Os benefícios são imensos. Para além de oferecer uma gama de métodos de pagamento mais alargada, os dados obtidos da mensuração das transações efetuadas pelos clientes fornecem aos comerciantes percepções mais informadas sobre o comportamento do consumidor que, posteriormente, serão de extrema utilidade na criação de campanhas de marketing mais acutilantes e direcionadas para as reais necessidades dos clientes.
Por exemplo, ao conseguirem vincular os dados de pagamento de uma compra efetuada através de um wearable a ofertas e incentivos, as campanhas de marketing podem gerar mais vendas.
Outro dos grandes beneficiários é o processo de checkout (finalização de compra), uma vez que o pagamento com um wearable se realiza de forma mais rápida e segura do que aquilo que acontece com outros métodos.
Nesta aurora de uma nova realidade em matéria de pagamentos, os comerciantes devem ainda apostar em terminais POS móveis evitando, deste modo, filas intermináveis e indesejáveis. Esta mobilidade pode, igualmente, ser alargada aos funcionários da loja que, através de scanners móveis e dispositivos NFC, podem ler rapidamente as informações de pagamento com apenas um toque na pulseira, anél ou smartwatch do cliente.
Conclusão
À medida que a tecnologia de pagamento avança em conveniência e segurança, a janela de oportunidade para o desenvolvimento de opções de pagamento criativas e atraentes, como é o caso dos anéis ou dos botões de punho, alargar-se-á.
Novos dispositivos, plataformas e aplicações – e, em última análise, a maior aceitação destes métodos – estão em pleno processo de integração na experiência de compra e irão definir as expetativas dos clientes ao longo dos próximos anos.
Isto coloca a bola do lado dos comerciantes que, face a um consumidor cada vez mais habituado à ideia de pagamentos contactless, terão que se preparar com antecedência e criar sinergias com as empresas fornecedoras de soluções de pagamento indicadas para o retalho, de modo a garantirem a aceitação dos pagamentos, no estilo e na forma, que os consumidores preferem.
* Artigo adaptado de Discover® Global Network.
